“... os inimigos não
habitam o exterior, mas o interior dos homens. O mundo real não
passa de um reflexo de quem o vê. Nem Lestigrões, nem os Cyclopes,
nem o bravio Poséidon hás de ver, se tu mesmo não os levares
dentro da alma, se tua alma não os puser diante de ti. (…) também
as riquezas não têm um endereço fixo. Elas são, na verdade, o
próprio caminho.” Ítaca – Konstantinos Kaváfis.
Quando procuramos um
oráculo sagrado, seja ele qual for, muitas vezes estamos à procura
de respostas imediatas, rodeados por uma ansiedade que nos leva para
pensamentos pessimistas e pavorosos, por conta do encontro com o Nada
que se apresenta, que por sua vez traz a sensação de imobilidade e
desespero diante dos fatos ou do que “parece ser”.
Segundo o Filósofo
Schopenhauer, o mundo que experimentamos por meio dos sentidos é uma
construção a partir de aparências, ou seja, representações
unidas sob a forma de espaço e tempo, e de categorias como
substância e causa. E todas as aparências são manifestações da
Vontade, e não temos o conhecimento claro desta Vontade. Com isso, a
vida nos parece intrinsecamente sem sentido, pois o que procuramos é
a Satisfação e a Tranquilidade, que está intimamente ligada à
realização de um Desejo, que não deixa de ser a sinalização para
o Ressurgimento de outro desejo. A vontade não morre, e pede um
objetivo. O desejo só luta por aquele breve estado que gera a dor de
seu restabelecimento, portanto podemos encontrar a felicidade na
Renúncia, assim os objetos ilusórios deixam de nos perturbar. A
consciência do Desapontamento nos consola, mostrando a natureza
ilusória do desejo, e a ai temos a percepção da inutilidade dos
empreendimentos temporais.
Este mecanismo acontece
por completo numa consulta com os oráculos. Queremos respostas
rápidas e certeiras, quando o Oráculo está ali para orientar o
Nada que estamos vendo e sentindo, e mostrando o que poderia ser
melhor naquele momento, porém queremos que o oráculo responda ao
que queremos saber, e saímos muitas vezes do consultório do
oraculador, reclamando que “não adiantou de nada”, “perdi meu
tempo”, “o oráculo não acertou nada pra mim”, pois o nosso
“Desejo” não foi realizado a contento.
Devemos procurar um
oráculo para nos orientarmos, e não para alimentar desejos
ilusórios, visões distorcidas da realidade e o que é pior, a visão
sobre si mesmo. Muitas vezes e quase sempre o oráculo está falando
sobre nosso interior, revirando peças do nosso inconsciente para
alertarmos sobre padrões repetitivos doentios, ideias fixas,
ressentimentos e iluminar nossa visão e a estrada que poderemos
seguir, diante da ação de nosso livre-arbítrio. E não esqueçamos:
Qualquer Oráculo é Sagrado. Devemos respeitá-lo e não insistir
para que ele responda o que queremos ouvir, por conta do nosso mundo
de representações e vontades.
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