quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O QUE BUSCAMOS NA CONSULTA COM O ORÁCULO?

... os inimigos não habitam o exterior, mas o interior dos homens. O mundo real não passa de um reflexo de quem o vê. Nem Lestigrões, nem os Cyclopes, nem o bravio Poséidon hás de ver, se tu mesmo não os levares dentro da alma, se tua alma não os puser diante de ti. (…) também as riquezas não têm um endereço fixo. Elas são, na verdade, o próprio caminho.” Ítaca – Konstantinos Kaváfis.

Quando procuramos um oráculo sagrado, seja ele qual for, muitas vezes estamos à procura de respostas imediatas, rodeados por uma ansiedade que nos leva para pensamentos pessimistas e pavorosos, por conta do encontro com o Nada que se apresenta, que por sua vez traz a sensação de imobilidade e desespero diante dos fatos ou do que “parece ser”.
Segundo o Filósofo Schopenhauer, o mundo que experimentamos por meio dos sentidos é uma construção a partir de aparências, ou seja, representações unidas sob a forma de espaço e tempo, e de categorias como substância e causa. E todas as aparências são manifestações da Vontade, e não temos o conhecimento claro desta Vontade. Com isso, a vida nos parece intrinsecamente sem sentido, pois o que procuramos é a Satisfação e a Tranquilidade, que está intimamente ligada à realização de um Desejo, que não deixa de ser a sinalização para o Ressurgimento de outro desejo. A vontade não morre, e pede um objetivo. O desejo só luta por aquele breve estado que gera a dor de seu restabelecimento, portanto podemos encontrar a felicidade na Renúncia, assim os objetos ilusórios deixam de nos perturbar. A consciência do Desapontamento nos consola, mostrando a natureza ilusória do desejo, e a ai temos a percepção da inutilidade dos empreendimentos temporais.
Este mecanismo acontece por completo numa consulta com os oráculos. Queremos respostas rápidas e certeiras, quando o Oráculo está ali para orientar o Nada que estamos vendo e sentindo, e mostrando o que poderia ser melhor naquele momento, porém queremos que o oráculo responda ao que queremos saber, e saímos muitas vezes do consultório do oraculador, reclamando que “não adiantou de nada”, “perdi meu tempo”, “o oráculo não acertou nada pra mim”, pois o nosso “Desejo” não foi realizado a contento.
Devemos procurar um oráculo para nos orientarmos, e não para alimentar desejos ilusórios, visões distorcidas da realidade e o que é pior, a visão sobre si mesmo. Muitas vezes e quase sempre o oráculo está falando sobre nosso interior, revirando peças do nosso inconsciente para alertarmos sobre padrões repetitivos doentios, ideias fixas, ressentimentos e iluminar nossa visão e a estrada que poderemos seguir, diante da ação de nosso livre-arbítrio. E não esqueçamos: Qualquer Oráculo é Sagrado. Devemos respeitá-lo e não insistir para que ele responda o que queremos ouvir, por conta do nosso mundo de representações e vontades.

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